quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

KUVO

Conheça aplicativo que vai revolucionar a música eletrônica A maioria dos produtores não recebe um centavo sequer pelos direitos autorais das músicas que produz. Isso mesmo: você faz uma música, ela é tocada por aí e você nunca fica sabendo. Hoje, esse processo é muito rudimentar em todo o mundo. Clubs e festivais pagam aos escritórios de arrecadação de direitos autorais (como o ECAD, no Brasil) um valor muito subjetivo, referente aos direitos das músicas tocadas naquele mês. O problema é que ninguém sabe quais músicas foram executadas. Em 99% dos casos, os DJs saem dos clubs sem informar o que tocaram (bastante justo, já que quem lembraria, no calor do momento, de todas as tracks que tocou em uma noite?).
A grana que chega ao ECAD é repassada aos artistas de forma aleatória: apenas os top 10 ou top 20 artistas dos charts de lojas virtuais acabam recebendo alguma coisa. Essa minoria de produtores famosos recebe a grana de milhares de músicas, de milhares de produtores, que são tocadas por aí todos os dias. O processo é pouquíssimo transparente – daí o motivo de tanta gente não gostar do ECAD. Esse problema não é exclusivo da música eletrônica, mas é do núcleo dela que a solução parece emergir. No ADE deste ano, que rolou entre os dias 14 e 19 de outubro em Amsterdã, foi apresentada uma tentativa – tardia, mas absolutamente válida – para mudar essa história. A ideia é simples: o aplicativo Kuvo, da Pioneer, lista as músicas que os DJs estão tocando, ao vivo. Quem está na pista pode descobrir as músicas ou até comprá-las na hora, pelo celular. Quem está fora do club (turistas em uma cidade que não conhecem são um bom exemplo) pode saber os DJs e as músicas que estão tocando nos clubs por perto, e assim escolher para onde ir. Caso a pessoa não saiba quem é o DJ ou não conheça o nome das tracks, o Kuvo disponibiliza um preview de áudio. Assim, não tem erro. Genial para quem sai à noite? Melhor ainda para os produtores. O Kuvo fornece uma prova concreta de quando, onde e quantas vezes cada música foi tocada. E assim, a grana é repassada de forma justa para quem produziu. Os selos também ganham muito com isso, logicamente. “Com todo o respeito, os DJs de EDM já ganham grana o suficiente, seja nas turnês ou nas vendas em lojas virtuais. Eles estão recebendo mais do que é seu de fato”, diz Kristian Van Haute, que trabalha há 17 anos na Pioneer, durante a apresentação do Kuvo em Amsterdã. Haute me contou que a maioria dos DJs está empolgada com a novidade, mas que alguns estão relutantes. São aqueles que deixarão de receber uma quantia significativa da renda que têm hoje. Ou seja: os big names. “Mas isso é só uma questão de tempo." kuvo3_700 Foto: Marcelo Godoy Para os DJs, o Kuvo não é só um aplicativo. É também um hardware, uma caixinha que deve ser conectada aos CDJs da Pioneer. “Nossos planos são desenvolver um plugin para conectar o Kuvo ao Traktor e ao Ableton”, diz Haute. Os clubs que se cadastram no Kuvo recebem o hardware de graça. Já são 199 cadastrados na Europa – entre Space Ibiza e Ministry of Sound. No Brasil, por enquanto, só o D-Edge, de São Paulo, faz parte da comunidade. Durante o lançamento no ADE, a Pioneer soltou um vídeo (abaixo). Nele, Richie Hawtin, Seth Troxler, Mark Knight e James Zabiela falam sobre as maravilhas do Kuvo, que é, na verdade, uma grande rede social. É útil para baladeiros, DJs, donos de club, produtores e para as próprias associações de arrecadação de direitos. E os DJs que guardam suas tracks a sete chaves e preferem não disponibilizá-las para o público? “Não há problema algum”, Haute me disse. “Entendemos completamente. Por isso há a opção de manter uma track privada, ou um set inteiro. É uma escolha pessoal do DJ. O lado bom é que, mesmo sem disponibilizar as músicas, pessoas conectadas ao aplicativo poderão ver, de qualquer parte do mundo, onde aquele DJ está tocando”. O único perigo real, acredito, é que a galera passe a olhar demais para o celular. A pista de dança ainda é um dos melhores lugares para se desconectar do mundo real e entrar em catarse. Mas se for só para saber o nome das músicas, tudo bem. Já fazemos isso com o Shazam, não é mesmo?

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